Brasileira resgata brincadeiras junto a refugiados

Qua, 08/02/2017 - 13:16

 

A mineira Alessandra Luiza de Morais Gabriel criou um projeto para ajudar crianças em situação de risco a brincar. Ela atua em campos de refugiados na Grécia, onde há sírios.


Uma brasileira formada em Belas Artes está trabalhando para impedir que a infância de crianças em situação de risco, como as refugiadas, passe sem brincadeiras e brinquedos. Alessandra Luiza de Morais Gabriel nasceu no estado de Minas Gerais e mora em Nova York, nos Estados Unidos, onde leva adiante o projeto Childhood Rescue Project, com essa proposta.

Alessandra começou a pesquisar a cultura da infância ainda no Brasil, quando era estudante universitária, e já colocou em prática a proposta do seu projeto com crianças atingidas pela barragem de Mariana, em Minas Gerais, e que vivem em campos de refugiados na Grécia, quase todos da Síria.

O Childhood Rescue Project pretende levar as brincadeiras para a vida de crianças que vivem em meio a guerras, desastres naturais, migração, trabalho infantil, violência, casamento precoce ou mesmo acesso excessivo à tecnologia. “A infância é a parte mais importante da vida do ser humano”, afirma Alessandra, reforçando que as crianças precisam brincar. Segundo ela, existe ciência no brincar e adultos não precisam criar algo para que as crianças brinquem. “É só observar e deixa-las brincar”.

Alessandra contou à ANBA sobre a sua experiência com os pequenos sírios no primeiro campo de refugiados onde esteve, na Grécia. Havia um espaço para as crianças, mas elas estavam todas muito nervosas e agressivas. “Elas eram crianças lindas e felizes, mas na primeira esbarrada já saíam na porrada”, observa.

Dentro do espaço infantil, logo tomavam o brinquedo do outro e tinham que sair do lugar em função desse comportamento. “Não coloquei brinquedos, peguei cada uma pela mão, sentamos em círculo, contei uma história”, afirma. A história era do mundo da imaginação e ela logo envolveu os pequenos, os fazendo participar.

Alessandra é de uma família grande e sempre conviveu com muitas crianças nesse universo. “Sempre fui muito envolvida com criança pequena e quis trabalhar com criança”, conta. A mineira cursou Belas Artes na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e em função da sua vontade de se dedicar à infância, começou a pesquisar, com seu companheiro da época, a cultura das crianças. Viajou e brincou com crianças na Bahia e em Minas Gerais.

O primeiro trabalho remunerado na área foi com crianças de assentamentos Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de Belo Horizonte. Depois ela trabalhou em outras iniciativas, como formação de agentes para atuarem com crianças em centros culturais na periferia da capital mineira e em um projeto no qual as crianças faziam vídeos nos quais contavam a outras crianças de escolas públicas de Belo Horizonte como brincavam.

alessandra
Para brincar não é preciso muito

Infância no mundo

A mineira logo entendeu que as crianças brincam das mesmas coisas no mundo inteiro e quis observar a infância no mundo. Alessandra avaliou que Estados Unidos era o melhor local para estar em contato com as demais regiões e se mudou para Nova York em 2002.

Nos Estados Unidos ela começou montando Play Groups, grupos de brincar, primeiro com crianças filhas de brasileiros, depois também com norte-americanos. Mas as fotos de pequenos refugiados que apareciam nas mídias chamaram a atenção de mineira em meados de 2015. “Tinha uma criança no meio da lama, fazendo uma casinha com galinhos de árvore”, relata, sobre uma das fotos que a tocou.

No ano seguinte, começo de 2016, a brasileira foi para a Grécia, para um campo chamado Eko, próximo à cidade de Polykastro. Ela ficou dez dias brincando com as crianças, a maior parte vinda da cidade síria de Aleppo. Ela voltou para o campo, que já estava em outro local próximo, entre setembro e outubro do ano passado, e deve retornar para a Grécia novamente neste mês. No momento, os refugiados, porém, estão espalhados por Atenas, onde ela tentará reuni-los.

Planos

Alessandra pretende transformar o Childhood Rescue Project em uma organização não-governamental, com sede nos EUA. Hoje o projeto já é encarregado de pensar a infância dentro do Eko Project, que atende refugiados e tem entre seus líderes Phoebe Gilpin e David El Alvarico. Nos campos da Grécia na qual atuou sempre foi em parceria com o Eko. Phoebe foi quem abriu as portas para o trabalho de Alessandra com os refugiados.

A mineira deve planejar os próximos passos e a forma como trabalhar com as crianças em parceria com Gilpin e Alvarico, do Eko Project, e com Dan Teuma e Mary Finn, do projeto The Worldwide Tribe, organização que também atua na área.

Alessandra tem alguns colaboradores para o Childhood Rescue Project, como Karen Sztajnberg, que fará com ela em Atenas um projeto de vídeo cartas com as crianças sírias. As brasileiras Lili Maeda e Luisa Lobo já participaram do trabalho  e também o seu marido, o fotógrafo Peter Gabriel.