Mostra Mundo Árabe de Cinema: bate-papo sobre o filme “Farha” tem presença da diretora Darin J. Sallam

Ter, 06/09/2022 - 19:29
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O encontro online  "Farha e a Nakba de 1948", promovido pelo ICArabe na programação da 17ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, teve mediação do jornalista Diogo Bercito e participação, além de Darin J. Sallam, da jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh. A conversa pode ser assistida pelo canal do Youtube do ICArabe. 

 

O Instituto da Cultura Árabe promovou, na programação da 17ª Mostra Mundo Árabe de Cinema, o bate-papo online "Farha e a Nakba de 1948", nesta segunda-feira, 5 de setembro, com a presença da diretora do filme, Darin J. Sallam. A Mostra está em cartaz até 7 de setembro, em São Paulo, no CineSesc, e na plataforma digital do Sesc, “Cinema em Casa”. O filme “Farha” será exibido nesta quarta, último dia do evento, às 20h30, na sala do CoinSesc. E o debate de ontem pode ser assistido pelo canal do Youtube do ICArabe (clique aqui para assistir).

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O debate com a escritora e diretora jordaniana, que dirigiu cinco curtas-metragens premiados, contou com a moderação do jornalista e escritor Diogo Bercito, autor do blog Orientalíssimo, da Folha de São Paulo, e a convidada Soraya Misleh, jornalista palestino-brasileira, autora do livro "Al Nakba - Um Estudo Sobre a Catástrofe Palestina".  

Farha, primeiro longa-metragem de Darin Sallam, conta a história de Farha, uma menina de 14 anos, que sonha em ir à escola na cidade com sua amiga, mas sabe que, como filha de um mukhtar, o chefe da vila, é esperado que ela se case, mas quer ir contra essas leis. Entretanto, em 1948, com a Nakba (catástrofe palestina) e os ingleses saindo do país, bombas israelenses chegam a sua vila e seu pai a tranca no porão da casa, prometendo voltar assim que puder. Enquanto Farha olha pelas rachaduras e espera pelo pai, ela vê sua vila, que tanto queria sair, ser destruída, ameaçando os planos que tinha para o futuro.     

“Essa história, na verdade, é baseada em fatos reais. Aconteceu mesmo, essa menina que ficou presa no porão. Essa história veio até mim, de alguma forma, e eu pensei muito sobre essa garota. Eu cresci ouvindo essa história, e sou claustrofóbica, fiquei sempre pensando como ela se sentiu ali presa. Eu lembro de pensar muito sobre essa personagem e sempre pensei em fazer esse filme no futuro”, conta Darin Sallam. 

Soraya Misleh, autora do livro "Al Nakba - Um Estudo Sobre a Catástrofe Palestina" explica o que foi esse evento na vida dos palestinos. “Bom, a Nakba, na verdade, é a catástrofe consolidada com a formação do estado de Israel em 15 de maio de 1948, mediante limpeza étnica planejada. Naquele momento, como a Darin comentou e o filme dela mostra muito bem, isso representou uma mudança total na vida das pessoas, a sociedade ficou inteiramente fragmentada; cerca de 800 mil palestinos expulsos da sua terra, cerca de 531 aldeias destruídas. E esse projeto da Nakba, apesar da pedra fundamental ser a criação e formação do Estado de Israel, ela começa muito antes, começa a ser planejada ainda no fim do século 19, quando surge o movimento político sionista, com fim de colonização”.                                             

A diretora de Farha explicou que queria contar essa história por ser um filme que mostra a maturidade dessa personagem. “Sempre que a gente fala da Palestina tem uma forma específica na qual nós falamos. Então, eu queria tentar uma coisa nova, de uma perspectiva diferente, principalmente da perspectiva de 1948, porque foi um evento muito importante, que mudou muita coisa, mudou a vida de muita gente e até hoje sofremos por conta desse acontecimento”. 

“Quando comecei a pensar sobre o filme, disse que não queria falar sobre a Farha como um número, entre aquelas 800 mil pessoas forçadas a sair, eu queria mostrar o ser humano que ela era, os sonhos que foram tirados, o roubo do amanhã”, afirma. “Eu queria um filme emotivo, que tocasse o coração das pessoas. Eu sempre falo que não sou política, eu sou artista, mas, claro, é uma forma de falar sobre política, ou sobre um problema, que é importante para mim. Essa é a melhor forma de falar com as pessoas, pelas emoções”.   

Soraya ressaltou a importância do filme e frisou que é preciso resgatar essa história para trazer mais conhecimento sobre a questão. “Eu costumo dizer que nós somos ilustres desconhecidos, porque o desconhecimento sobre a história é muito grande ainda. E a importância desse resgate histórico, dessa memória, é fundamental. Um filme como o dela é muito importante porque as pessoas desconhecem; não sabem a origem, acham que é pontual, que são guerras entre dois lados iguais, com uma série de ideologias vendidas na cabeça das pessoas. A gente tem que desconstruir isso o tempo todo, porque de fato as pessoas não conhecem”, afirma.

Sorteio:

Ao final do bate-papo o ICArabe sorteou o livro "Da presença da ausência", de Mahmud Darwich, com tradução de Marco Calil, uma cortesia da Editora Tabla, parceira nesta edição da Mostra. O ganhador foi Rodrigo Pochmann.

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Mostra Mundo Árabe de Cinema: até esta quarta-feira, 7 de setembro

A Mostra Mundo Árabe de Cinema, que é sucesso de público e crítica, se consolidou no calendário cultural de São Paulo. Nesta edição, volta ao seu formato presencial e fica em cartaz até 7 de setembro, na sala do CineSesc e na plataforma Sesc Digital https://sesc.digital/colecao/cinema-em-casa-com-sesc

Programação completa aqui: https://mundoarabe2022.icarabe.org/

A Mostra tem realização do ICArabe (Instituto de Cultura Árabe), correalização do Sesc São Paulo e patrocínio da Casa Árabe, o centro cultural da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, e do Instituto do Sono.

E tem apoio da Editora Tabla, Unifesp|Cátedra Edward Said de Estudos da Contemporaneidade|Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, CineFértil.