Em livro, Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, aborda as falácias do conceito de "Terrorismo Religioso"

Qui, 16/10/2014 - 23:51
O livro “Do 11 de Setembro de 2001 à Guerra ao Terror: reflexões sobre o terrorismo no século XXI” foi lançado em Brasília, no mês de abril, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e aborda o tema do terrorismo em sete capítulos escritos por pesquisadores sob diferentes perspectivas.   

Nasser explica que a obra é resultado de uma bolsa de pesquisa do IPEA. Quando completaram-se 10 anos do ataque às Torres Gêmeas, ocorrido em 2001, Nasser organizou, na PUC, um evento sobre o tema. A partir daí surgiu a ideia de reunir-se a outros estudiosos e escrever o livro. “Ali tem concepções diferentes sobre terrorismo. Não é uníssono. É a voz de todos”, ressalta. “Além disso, tem a abordagem da economia, a respeito da questão cibernética. Abordamos as várias dimensões do fenômeno do terrorismo”.

"Terrorismo religioso"

O capítulo que Nasser assina levanta especificamente, conforme explica, a questão do chamado “terrorismo religioso”. O objetivo, afirma, é desmistificar tal conceito. “Essa ideia de terrorismo religioso ou novo terrorismo é construção”, pontua o autor. “Uma construção que passou por acadêmicos, jornalistas e analistas para tentar convencer o mundo de que há algo novo que é irracional, religioso, difícil de lidar e, portanto, necessita de novos instrumentos para estabelecer uma guerra contra o terror.”

O texto, segundo Nasser, tenta demonstrar, valendo-se de uma bibliografia que constrói a ideia do terrorismo e por outra que a desconstrói, que o conceito é falso, improcedente. “O 11 de setembro não é regra. É uma exceção. Não foi um divisor de águas, como dizem, que instaurou um novo padrão de terrorismo.”

A verdade, ressalta o autor, é que as motivações do terrorismo estão muito mais relacionadas a questões políticas, como ocupação de território, do que propriamente por razões religiosas. Segundo ele, os pesquisadores norte- americanos, que cita no livro, através de várias pesquisas empíricas, constataram que o terror, especificamente o suicida, acontece em 90% dos casos em contextos onde há ocupação militar de um país pelo outro. “São essas variáveis que, na verdade, seriam muito mais importantes do que propriamente a religião”, afirma.

Perspectivas 

“Do 11 de Setembro de 2001 à Guerra ao Terror: reflexões sobre o terrorismo no século XXI” foi escrito entre 2011 e 2012 e, primeiramente, de acordo com o professor Nasser, surgiu como finalidade acadêmica de aprofundar as pesquisas sobre o terrorismo, “focando mais em pesquisas vinculadas à economia, política e direito, do que propriamente reproduzir falsas percepções sobre o fenômeno.” 

Por outro lado, destaca ele, há também o propósito de torná-lo público de forma a abranger a sociedade como um todo para que ela tome conhecimento. “Porque realmente há o terrorismo. E é algo que deve ser combatido, mas para isso precisamos entender o fenômeno na sua totalidade. E instruir a população, a sociedade, os grupos em torno do tema. Identificar, claro, o que são essas causas maiores e evitar qualquer tipo de preconceito étnico-religioso”, finaliza. 

A publicação está disponível em:

http://www.ipea.gov.br/portal/index.php?option=com_content&view=article&id=22016&Itemid=1