ICArabe prestigia celebração em São Paulo do patriarca da Igreja Ortodoxa Russa, Cirilo I
“Sua Santidade, os filhos de vossa Igreja Antioquina imigraram da Síria e do Líbano para este país hospitaleiro e benevolente", lembrou o religioso em texto lido ao final da missa. "Isso já há mais de 150 anos, não é de hoje. Participaram de atividades de ordem social e política ambicionando ter uma vida melhor, em paz, pare eles e para seus filhos", afirmou. "Mas o mais importante é que eles, em toda a história dessa imigração, trouxeram do Oriente a fé cristã de seus pais, de sua terra natal, santificada pelo sangue dos mártires. Construíram igrejas e elas se tornaram locais verdadeiramente de união.”
Dom Damaskinos falou sobre a relação entre as igrejas ortodoxas russa e antioquina e pediu que se rezasse pela paz na região de onde sua igreja surgiu. “Pedimos a todos oração, especialmente pelo berço do cristianismo, o Oriente Médio, do qual faz parte a Síria. Rezemos pela sua unidade e paz, pelo fim dos conflitos, em toda a região, especialmente a Síria, a qual mais sofre agora.”
Cirilo I agradeceu as palavras do religioso, que disse terem lhes tocado, e reforçou o pedido de paz. "Não se alcança a paz duradoura à força. A paz duradoura sempre está ligada à Justiça", disse por meio de um tradutor do russo para o português.
Igrejas e Oriente Médio
As relações entre as igrejas ortodoxas e a região remontam desde o início do cristianismo. A Igreja Católica primitiva era administrada por meio de um colegiado de cinco sedes: Roma (na parte ocidental do Império Romano) e Constantinopla, Alexandria, Jerusalém e Antioquia (no lado oriental). Esta última, a qual pertence a Catedral Ortodoxa do Paraíso, foi criada na cidade hoje chamada Antáquia (antiga Antioquia), que fica no sul da Turquia e na fronteira com a Síria. Foi em Antioquia, segundo a Bíblia, que os seguidores de Jesus foram chamados de cristãos pela primeira vez e também onde São Paulo fez seu primeiro sermão.
As sedes orientais se separaram da romana no ano de 1054, por conta de divergências políticas e doutrinárias, e deram origem a outras igrejas, que hoje são chamadas de ortodoxas. Mantêm sua comunhão por meio do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.
No ano de 1965, o patriarca ecumênico Atenágoras I e o Papa Paulo VI assinaram documento no qual aproximavam as igrejas novamente e cancelavam as excomunhões mútuas. As igrejas ortodoxas possuem hoje diferenças da romana como em normas de clero (o celibato só é obrigatório para os bispos), na doutrina (o dogma da virgindade de Maria foi promulgado pela Igreja Romana em 1854) e na liturgia. A missa na catedral foi celebrada com os religiosos de costas para a assembleia e o altar foi fechado ao público na hora da comunhão.
O papa Francisco, desde o começo do seu papado, tem se encontrado com líderes ortodoxos. Neste mês, encontrou Cirilo I em Cuba, onde assinaram declaração conjunta contra a perseguição a cristãos no Oriente Médio e também pela paz na região.
"Foi uma iniciativa que enche os corações dos cristãos deste continente de alegria e esperança pela unidade do amor, que foi coroada pela declaração contínua-conjunta", afirmou Dom Damaskinos ao patriarca russo.
Para o professor Farhat, Cirilo I traz consigo uma mensagem de mudança para o mundo. “É uma declaração de paz, ele está viajando em nome da paz, e fez isso de uma forma objetiva encontrando o papa Francisco em Cuba", disse. "Ambos declararam que não é com guerra que se resolve os problemas da humanidade. A única solução é o diálogo. É isto que está faltando para a humanidade, estamos precisando de paz.”
Durante a comunhão, Dom Damaskinos se encontrou com o professor Farhat e concedeu sua benção ao Instituto da Cultura Árabe.
Estiveram presentes na missa cheiks de mesquitas de São Paulo, o arcebispo romano de São Paulo, Dom Odilo Scherer, e o prefeito da cidade, Fernando Haddad. O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, também compareceu ao coquetel realizado logo em seguida, fechado ao público.
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