Apelo à Prefeitura de São Paulo e à coletividade libanesa e síria no Brasil
Na semana de comemoração da Independência do Brasil, a cidade testemunha a depredação de um monumento dedicado ao país pela colônia síria e libanesa. Leia o artigo de Roberto Khatlab, escritor e pesquisador da emigração libanesa.Este mês comemoramos a Festa da Independência do Brasil, em 7 de setembro. Uma festa nacional, chave na história do país.
Em 1922, quando o Brasil comemorou o Centenário da Independência (1822-1922), foi erigido no bairro Ipiranga o grande Monumento à Independência do Brasil. Obra realizada pelo famoso escultor e pintor italiano, Ettore Ximenes (1855 –1926), autor de várias obras na Itália, Estados Unidos e Argentina, entre outros. Nesta mesma época, membros da coletividade libanesa e síria se reuniram para angariar fundos para fazer uma homenagem ao Brasil e aos brasileiros no Centenário da Independência. Conseguiram o fundo e encomendaram ao escultor Ettore Ximenes um monumento também para esta comemoração e que seria um presente da “Colônia Síria e Libanesa”.
O resultado foi o belíssimo monumento, uma verdadeira obra de arte e história. Um pedestal de granito rosa com medidas grandiosas: 9,15m x 8m x 8m e escultura em bronze medindo 4m x 2,17m x 2,17m. No primeiro plano do monumento, um barco fenício, com vários personagens, simbolizando os antepassados dos libaneses e sírios, grandes navegadores e comerciantes pelo mundo. No alto do pedestal, três personagens: uma mulher síria-libanesa oferecendo algo a um indígena brasileiro e, no centro, uma outra mulher, representando a República do Brasil, com um gesto de abraçar os dois personagens, o árabe e o indígena, no sentido de confraternização, de acolhimento. Este monumento foi instalado e inaugurado com pompas no Centenário da Independência do Brasil, nos jardins do Palácio das Indústrias, atual Museu Catavento Cultural e Educacional. Depois, foi transferido, com o argumento de evitar que fosse depredado, para a Praça Ragueb Chohfi, no final da Rua 25 de Março, paralelo com a Rua Jorge Azem. Local excelente, pois a região foi a base do progresso de muitos lojistas libaneses e sírios, um local histórico para a coletividade libanesa e síria.
A violação não foi evitada, pois hoje o monumento está depredado e, se não forem tomadas providências, não só o monumento mas todos os esforços e memória dos que tanto fizeram para erigi-lo desaparecerão. O monumento já não tem mais as duas placas comemorativas, em português e árabe, onde estava escrito que se tratava de “uma homenagem ao Brasil”. Pressuponho que foram roubadas. Quando aos personagens em bronze, alguns já estão decapitados, faltam cabeças, dorsos, braços, pernas…. O pedestal em granito rosa está pichado. Isso tudo mesmo o monumento estando em uma praça cercada e com o portão fechado, o que impede a visita de turistas, mas não a invasão dos depredadores.
Esta é uma obra de arte da colônia libanesa e síria, mas tambem de São Paulo e do Brasil. O Brasil tem a maior colônia de imigrantes e descendentes libanesese sírios no mundo e temos no Brasil personalidades libanesas e sirias, no governo, nos negócios, nas artes. Existem inúmeras associações, clubes e instituições libanesas e sírias em São Paulo e no Brasil. Será que nao conseguimos, como conseguiram os antepasados libaneses e sírios, restaurar, proteger e iluminar esta grande obra de arte que a colônia libanesa e síria ofereceu ao Brasil no seu Centenário da Independência?
Roberto Khatlab é diretor do Centro de Estudos e Culturas da América Latina da Universidade Saint-Esprit de Kaslik e pesquisador no Centro de Estudos da Emigração Libanesa da Universidade Notre Dame, no Líbano. Autor de vários livros sobre as relações Brasil-Líbano, entre eles Mahjar, Saga libanesa no Brasil (bilíngue português-árabe), Editora Mukhtarat, Beirute, Líbano.
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