Editora lança duas novas obras relacionadas ao mundo árabe
Duas importantes publicações relacionadas ao mundo árabe foram lançadas em setembro e outubro pela editora Estação Liberdade. A primeira trata-se de uma ficção intitulada “O segredo do calígafo”, do sírio Rafik Schami, que, baseada na arte da caligrafia, traz uma trama passional e um espelho da sociedade síria nos anos 1950. Já a segunda, chamada “Introdução à filosofia islâmica”, do italiano Massimo Campanini, traça um painel histórico da filosofia islâmica antiga e medieval, trabalhando a complexidade e a importância de filósofos como Averróis, Avicena, Avempace, Ibn Khaldūn, al-Fārābī e al-Ghazālī.
A história escrita por Rafik Schami se passa nas ruelas estreitas da cidade velha de Damasco, nas quias um boato traça seu caminho: Nura, a bela esposa do famoso calígrafo Hamid Farsi, sumiu sem deixar qualquer pista. Por que deixou para trás uma vida que muitos lhe invejam? Ou ela teria sido vítima de sequestro dos inimigos de seu marido?
Desde sua mais tenra idade, Hamid Farsi era festejado como gênio da caligrafia. Em sua beleza toda em filigranas se manifesta da forma mais pura a poesia árabe. No entanto, com o passar dos anos, ele percebe também as fraquezas de sua língua, que restringem seu emprego no dia a dia.
Integrando uma confraria secreta de sábios, Hamid Farsi desenvolve planos para uma reforma radical da língua sem imaginar os perigos que o aguardam.
Joga-se com o empenho de sua vida em seu trabalho de modo a realizar o grande sonho de sua reforma. Nura não sabe nada dos planos de seu marido. Ela conhece apenas seu lado distante e egoísta, que a degradaram para ama de casa logo após a noite de núpcias. Não constituirá surpresa que as atenções que lhe devota um jovem e inteligente aprendiz do atelier de seu marido encontrarão ecos. Uma paixão intensa, complexa e repleta de nuances e contradições terá início – o amor entre uma muçulmana e um cristão.
O embate entre a continuidade e a renovação, o amor e a sensualidade mal contidos pelos véus de uma sociedade tradicional, o mistério e a violência latente, todos esses elementos o leitor poderá encontrar ao sabor de sua caminhada pelas sinuosas vielas de Damasco.
Sobre “Introdução à filosofia islâmica”
Por Tadeu Mazzola Verza - Professor de Filosofia da UFMG
A filosofia islâmica ou, como alguns preferem, a falsafa, a filosofia produzida em língua árabe, origina-se na recepção da filosofia grega por parte do mundo islâmico devido ao movimento de traduções iniciado durante o período abássida (séc. VII), principalmente por cristãos jacobitas e nestorianos. Durante muito tempo a filosofia islâmica foi estudada mais em vista daquilo que podia contribuir para a compreensão das fontes de filósofos cristãos, como Tomás de Aquino, Duns Scotus e Alberto Magno, do que por si mesma como filosofia autônoma e original. Mesmo quando ela mesma era objeto de estudo, a concepção de que era constituída por uma contínua preocupação com o embate entre fé e razão levava os estudiosos a acreditar que seus autores tinham sempre algo a esconder, já que suas verdadeiras opiniões contradiziam quer os fundamentos da religião quer a doutrina dos que detinham o poder.
Pode-se dizer que nas última duas décadas os estudos sobre a falsafa já não seguem esse quadro. Atingiram um nível de sofisticação e especialização, tanto metodológica quanto textual, sem precedentes na história da filosofia, o qual o livro de Massimo Campanini reflete. Antes de ser uma história da filosofia islâmica, o livro é uma reflexão sobre seus principais temas, de modo a lhe restituir seu sentido próprio, como adverte o próprio autor.
Campanini, na primeira parte da obra, apresenta-nos um quadro cronológico dos principais filósofos que comporão seu foco de investigação, expondo as principais ideias desses pensadores e as influências que eles receberam. Analisando o processo de formação dessas correntes de pensamento, mostra em que medida podem ser chamadas de islâmicas, defendendo, principalmente, que esses filósofos não buscavam na filosofia grega um “modelo de racionalidade”, mas uma base para suas próprias concepções religiosas. Conclui a primeira parte com uma análise das várias interpretações que essa filosofia recebeu de seus leitores contemporâneos.
Na segunda parte do livro, tomando como fio condutor o conceito de tawhid, unicidade divina, o autor passa a analisar os temas que surgem a partir dele, como a estrutura do cosmos e o arbítrio, a maneira como os filósofos islâmicos o trataram, bem como seu papel nos respectivos sistemas. Seu objetivo é mostrar como, apesar de posições diversas, a relação íntima que o homem, o mundo e Deus guardam é elemento constitutivo de seu pensamento.
Permeiam essas páginas a reflexão sobre o papel do intelecto humano nos caminhos da humanidade e o esmiuçar de questões delicadas como a finitude e a imortalidade, e a necessidade (ou não) do agir divino. Haveria um motivo para a Criação? Autores tão importantes para a formação do legado filosófico universal quanto Averróis, Avicena, Avempace, Ibn Khaldūn, al-Fārābī e al-Ghazālī introduzem, mas também aprofundam, questões primordiais sobre a filosofia islâmica nesta obra de intenso vigor analítico.
Os autores
RAFIK SCHAMI
Rafik Schami nasceu em Damasco em 1946. Marcou época o jornal mural Al-Muntalek, que ele fundou e dirigiu na cidade velha de Damasco. Vive na Alemanha desde 1971, onde estudou química e exerceu vários ofícios antes de se dedicar à literatura a partir de 1982. Suas obras foram traduzidas para 24 línguas e foram contempladas com numerosas distinções em diversos países, destacando-se o importante prêmio Adelbert von Chamisso na Alemanha. Entre elas, destacam-se Die Sehnsucht der Schwalbe [As saudades da andorinha], de 2000, Die dunkle Seite der Liebe [O lado obscuro do amor], de 2004, e Der Kameltreiber von Heidelberg [O puxador de camelos de Heidelberg], de 2006. Notabilizou-se com leituras públicas de suas obras, que narra ao velho estilo oriental.
Sobre o calígrafo desta edição - Ismat Amiralai nasceu em 1938 em Damasco. Aprendeu a arte da caligrafia árabe com Ahmad Albari e Hilme Habbab em Damasco. Atuou nas áreas de pintura, caligrafia e artes gráficas nas cidades de Damasco, Beirute e Mannheim (Alemanha). Rafik Schami manteve estreita colaboração com Amiralai durante a elaboração do romance. (pág. 442)
MASSIMO CAMPANINI
Massimo Campanini nasceu em 1954 e é professor da Universidade de Estudos de Nápoles - L’Orientale, onde leciona história contemporânea dos países árabes e história do Islã contemporâneo. Pertence ao corpo editorial do Journal of Islamic Philosophy e do Politica e religione, entre outros, e é membro da British Society of Middle Eastern Studies (BRISMES) e da Società per gli studi sul Medio Oriente. Especialista na temática islâmica, Campanini lecionou por muitos anos história da filosofia islâmica medieval e filosofia política. Entre suas muitas publicações destacam-se: Averroè. Il Trattato Decisivo (1994); al-Fārābī. La città virtuosa (1996); Averroè, L'Incoerenza dell' Incoerenza dei filosofi (1997); al-Ghazâlî. Le perle del Corano (2000); Avempace, Il regime del solitário (2002); Il Corano e la sua interpretazione (2004) e The Qur'an. The Basics (2007).
O segredo do calígrafo
de Rafik Schami
Tradução de Silvia Bittencourt
Caligrafias de Ismat Amiralai
436 páginas, 16 x 23 cm
ISBN: 978-85-7448-188-3
Preço: R$ 63,00
Lançamento comercial: 28 de setembro de 2010
Introdução à filosofia islâmica
de Massimo Campanini
Tradução do italiano: Plínio Freire Gomes
240 páginas, 14 x 21 cm
ISBN: 978-85-7448-186-9
Preço: R$ 42,00
Lançamento comercial: 4 de outubro de 2010
Para saber mais: http://www.estacaoliberdade.com.br