Realizado no CCBB SP, encontro contou também com Javier Amadeo, professor da Unifesp – Cátedra Edward Saïd, e teve mediação de Christina Queiroz, diretora de Comunicação do ICArabe.
O público que esteve no CCBB SP, neste sábado, 30 de agosto, teve a oportunidade de assistir a um bate-papo sobre as desigualdades sociais no mundo árabe contemporâneo, no terceiro e último debate da 20ª Mostra Mundo Árabe de Cinema. Os convidados fizeram uma reflexão sobre os filmes “A Quem eu Pertenço”, “Linha de Frente” e “Obrigada por sonhar conosco”.
“Encerramos os debates com uma grande referência em jornalismo (Luiz Nassif, do GGN), Christina Queiroz, pesquisadora da Cátedra Edward Said da Unifesp, e Javier Amadeo, que também é da Cátedra, para debater desigualdades sociais no mundo árabe, crises contemporâneas, questões femininas e vários outros temas de alta relevância”, ressaltou Natalia Calfat, presidente do ICArabe, ao dar as boas-vindas. Os dois encontros anteriores contaram com a diretora espanhola Isabel Fernández (do filme “Os Construtores de Alhambra”), no CineSesc, e o escritor Milton Hatoum e a professora Olgaria Matos (USP e Unifesp), no CCBB SP.
Luiz Nassif apresentou dados sobre a concentração de riqueza e estado rentista, exclusão econômica das mulheres, apesar dos bons níveis de escolaridade, desemprego entre os jovens, educação e pobreza de aprendizagem, e de que forma as guerras no Oriente Médio afetam a população em relação às desigualdades sociais.
“Os 10% mais ricos retêm 58% da riqueza. Há estudos que apontam que reduzir essa desigualdade pode aumentar em 30% o PIB regional. É uma das populações mais jovens do mundo, mas com altas taxas de desemprego, chegando a 30% em 2017, apesar de serem qualificados. A economia local não acompanha a força de trabalho, as guerras também aprofundam a pobreza e as mulheres acabaram se tornando provedoras”, explicou.
Nassif citou ainda exemplos de avanços em diferentes graus em relação à igualdade de gênero (Tunísia e Emirados Árabes) e à preparação da juventude para o mercado de trabalho (Líbano, que ainda vê muitos de seus jovens saírem do país em busca de oportunidades).
Javier Amadeo destacou a relevância das personagens femininas. “As mulheres não têm um papel passivo. Nos três filmes as personagens são protagonistas e matriarcas, apesar dos homens serem retratados como pais de família e provedores”.
O professor frisou a importância da Mostra, por exibir obras que normalmente não estariam presentes no circuito comercial. “Os filmes permitem entender as complexidades do mundo árabe, desconstruir as ideias sobre os árabes com relação ao terrorismo e os conflitos entre Israel e Palestina. A Mostra é fundamental para desconstruir os mitos com relação ao que acontece em Gaza há quase dois anos”.
“Os debates promovidos na Mostra são oportunidades do público se expressar. A gente vê muitas pessoas que participam porque querem mostrar o que sentiram, o que viram e sua maneira de interpretar as produções audiovisuais. E sempre em diálogo com pessoas que, de certa forma, são referências em seus campos de trabalho, como é o caso da Isabel Fernandez, documentarista catalã, Milton Hatoum, Olgaria Matos, Luis Nassif e Javier Amadeo, que integraram os encontros desta edição”, ressalta Christina Queiroz.