Após conseguir o refúgio, sobreviver torna-se um grande desafio para quem chega ao Brasil em busca de uma nova vida. E a gastronomia árabe, tão amada pelos brasileiros, tem sido uma alternativa para recomeçar.Após conseguir o refúgio, sobreviver tem sido um segundo desafio, que pode ser vencido com a diversidade de gostos culinários do brasileiro. Foi o que a síria Muna Datweesh percebeu ao chegar ao país.
“A viagem foi longa, mas estamos felizes”, conta ela, que criou a página no Facebook “Muna – Sabores & Memórias Árabes”, para vender os pratos típicos da Síria. Por enquanto, as iguarias são vendidas em sua casa e, por isso, Muna sonha em ter um restaurante quando estiver com melhores condições financeiras. “É muito difícil, especialmente pagar o aluguel”.
A síria irá participar de um bazar cultural com sua culinária no Adus – Instituto de Reintegração do Refugiado – Brasil, no próximo dia 17, e também pretende ministrar workshops futuramente.
Muna nasceu em 1980 na cidade da Latakia e estudou literatura inglesa. Casada com o engenheiro da marinha Wessam Aljammal, pretendia ir para o Egito ou para algum país europeu, mas, sem sucesso, veio para o Brasil em novembro de 2013. Dois meses antes, o governo permitiu que missões diplomáticas concedessem vistos especiais a refugiados. A medida foi renovada em setembro deste ano.
Foi também por essa iniciativa do Brasil que o sírio Talal al Tinawi veio para o país em dezembro de 2013. Talal estava refugiado no Líbano quando ficou sabendo que era mais fácil vir para o país latino-americano. “O Brasil tem economia forte, tem muitas pessoas que ajudam refugiados. As pessoas aqui no Brasil são muito boas, me ajudam muito para montar meu negócio, vender comida”, explica o sírio em vídeo divulgado em campanha na internet.
A exemplo de Muna, Talal começou a vender comida árabe em casa, já que não conseguiu validar seu diploma de engenheiro mecânico no país. Como queria montar um restaurante próprio, iniciou uma campanha de arrecadação de financiamento coletivo online. “Conversei com um voluntário do Adus e disse que queria abrir o restaurante, mas não tinha o dinheiro. Ele explicou sobre o crowdfounding e ajudou a fazer um vídeo e o texto”, contou ao ICArabe. A campanha foi encerrada no final do mês passado e arrematou um total de R$ 70.579,67, acima da meta original, que era de R$ 60 mil.
“Estou feliz. Imagino um bom futuro para mim e para minha família. Gosto do Brasil, sei que no Brasil, se eu precisar de ajuda, o povo me ajuda”. Segundo ele, atualmente suas vendas rendem em média R$ 3 mil e podem dobrar com o restaurante. O sírio agora procura um imóvel para alugar.
O dinheiro poderá ser usado para pagar os primeiros meses de aluguel, para comprar um caminhão estilo foodtruck, equipamentos e ingredientes. O maior desafio seu, de sua mulher e seus três filhos no país continua sendo a barreira da língua.
Marcelo Haydu, diretor executivo do Adus, explicou que muitos sírios com ótima qualificação em diversas áreas têm chegado ao Brasil, mas encontram uma saída na gastronomia. “Infelizmente muitos acabam não conseguindo exercer suas profissões aqui. É preciso buscar alternativas. Uma delas tem sido a gastronomia. Há vários sírios que cozinham muito bem. Além disso, a culinária árabe é bem conhecida e admirada por aqui.”
Com essa junção de fatores, completa, o caminho fica aberto para que esses refugiados possam tentar uma vida nova no Brasil através da culinária.
Refugiados no Brasil e no mundo
De acordo com dados da ONU, mais de quatro milhões de sírios já deixaram sua terra natal desde o início da guerra civil, há quatro anos. Um dos destinos dos refugiados tem sido o Brasil. Conforme números do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), há mais de dois mil refugiados sírios no país que buscam uma nova vida, com Muna e Talal.
Confira o evento do bazar da Muna: https://www.facebook.com/events/141441786203865/
Veja a página da campanha de Talal: http://www.kickante.com.br/campanhas/restaurante-talal-cozinha-siria-0
