O Instituto da Cultura Árabe (Icarabe) lança o 26º verbete de sua série informativa sobre os árabes, reforçando o compromisso de oferecer conhecimento crítico e bem fundamentado sobre a cultura, a história e as múltiplas dimensões do mundo árabe, em contraponto às interpretações simplificadas e aos estereótipos ainda recorrentes.
Sionismo cristão
O sionismo cristão é um movimento religioso-político que associa a interpretação bíblica de promessas feitas ao povo judeu com apoio contemporâneo ao Estado de Israel. Em termos gerais, baseia-se na crença de que os judeus possuem, por direito divino, a Terra Prometida descrita no Antigo Testamento. Essa leitura levou muitos grupos cristãos, especialmente protestantes, a defender a restauração de Israel como parte de um plano escatológico ou como expressão da fidelidade às Escrituras (Crome, 2018).
Embora presente em diferentes contextos, o sionismo cristão adquiriu força particular nos Estados Unidos a partir da criação do Estado de Israel em 1948 e a Guerra dos Seis Dias em 1967, onde exerce influência direta sobre a política externa, e expandiu-se para outras regiões, incluindo a América Latina.
Segundo Reinke (2023), é possível distinguir três principais vertentes entre os evangélicos brasileiros: o sionismo clássico, marcado pelo dispensacionalismo e pelo apoio incondicional a Israel; o novo sionismo cristão, que também apoia Israel, mas admite a defesa de direitos palestinos e a solução de dois Estados; e o sionismo simbólico-afetivo, que se expressa em práticas litúrgicas e emocionais, como o uso de símbolos judaicos e as peregrinações à Terra Santa.
O sionismo cristão não é só uma questão de fé ou de afinidade simbólica com o judaísmo. Como argumenta Freston (2020), ele funciona também como uma forma de levar a pauta pró-Israel para dentro da política, através da teologia do domínio. Machado et al. (2022) reforçam essa ideia: mais do que símbolos ou crenças compartilhadas, trata-se de uma agenda política ativa. Também vale ressaltar que essas manifestações mudam de acordo com o tempo, o lugar e as conexões internacionais – misturando disputas locais e redes globais.
Referências bibliográficas
Crome, A. (2018), Christian Zionism and English National Identity, 1600-1850. Londres: Palgrave Macmillan.
Freston, Paul. (2020b), “Conclusion”. Palestra apresentada no congresso Politics and Religion in Brazil and the Americas: Evangelical Churches and their Relations with Judaism, Zionism, Israel and the Jewish Communities. Universidade de Haifa, jan. 13-15.
Haija, Rammy M. 2006. “The Armageddon Lobby: Dispensationalist Christian Zionism and the Shaping of US Policy Towards Israel-Palestine”. Holy Land Studies. https://doi.org/10.3366/hls.2006.0006.
Hartmann, Arturo & Rossi, Shamira. 2024. Entre a Cruz e a Estrela de David: O Papel dos Senadores da Frente Parlamentar Evangélica no Contexto do Sionismo Cristão no Brasil no pós 7 de outubro. Revista Tlatelolco: Democracia Democratizante Y Cambio Social.
Kahn, Luis Aránguiz. ¿ El despertar transnacional del “gigante dormido” cristiano sionista?: actores del apoyo público evangélico al Estado de Israel a partir del caso chileno. Política y Sociedad, v. 59, 2022.
Machado, Maria das Dores Campos; Mariz, Cecília Loreto; Carranz, Brenda. Genealogia do sionismo evangélico no Brasil. Religião & Sociedade, v. 42, p. 225-248, 2022.
Reinke, André Daniel. A função do imaginário no sionismo cristão brasileiro. Ciencias Sociales y Religión, v. 25, p. e023024-e023024, 2023.
Shamira Rossi é cientista política e economista. Mestranda em Ciência Política (IESP/UERJ). Pesquisadora na linha de Instituições e Comportamento Político. Atualmente, se dedica a investigar o sionismo na opinião pública brasileira e sua influência nas instituições políticas.