Crônicas de uma sociedade racista

Qui, 21/08/2014 - 18:31
Israel =  Ku klux klan + Hitler

O casamento de um árabe e de uma judia gerou onda de protestos da comunidade judaica de Israel.

Mahmud Mansur, o noivo de 26 anos, e Maral Malka, a noiva de 23 anos, casaram-se em 17/8/2014.

Dias antes do casamento, o noivo recebeu várias ameaças e mensagens de conteúdo racista, vindos de judeus, que diziam que impediriam o casamento.

Mahmud buscou o amparo do Judiciário israelense, mas aquele Poder declarou  que os judeus têm direito de protestar contra o casamento misto, desde que se mantenham a 200 metros do local da festa.

Centenas de judeus reuniram-se perto do salão de festas e gritaram palavras de ordem como “morte aos árabes”, o chavão mais ouvido em Israel. 

A polícia israelense, para garantir aos judeus o direito do exercício do racismo, a tudo assistiu de forma passiva.

O protesto foi organizado pelo grupo Lehava, que se opõe a relacionamentos entre judeus e goym.

Segundo o porta-voz do Lehava, ex-parlamentar israelense, Michael Ben Ari,  “o casamento é pior do que o que Hitler fez”.

Ben Ari é conhecido por rasgar exemplares de Novo Testamento e assim o fez, inclusive, diante de câmeras de TV. Segundo Ben Ari, o Novo Testamento e quem o enviou têm um lugar apropriado: a lata de lixo.

O pai da noiva, contrário a casamento de judeu e goy, afirmou que o seu problema com o noivo resumia-se ao fato de ele ser árabe.

O Lehava, que conta com apoio de grande parte do rabinato e recebe fundos estatais, declara que seu objetivo é impedir, com todos os meios, os casamentos de judeus com não-judeus.

Em uma carta destinada às mulheres judias, que pode ser visualizada  no website da organização, lê-se: “Você é a filha do rei, rei de todos os reis. Você tem privilégio de ser santa e pura. Você é uma mulher judia.  Não deixe um goy torná-la impura”.

Vários líderes daquela organização já passaram curtos períodos na prisão, condenados por assassinatos de civis árabes nos territórios árabes ocupados.

Tzipi Hotovely, presidente da comissão parlamentar sobre status da mulher, afirmou que Israel enfrenta um problema real, dizendo “estamos falando de noventa e duas mil famílias, em que um dos cônjuges não é judeu. Israel deve combater esse problema”.

O racismo tem a mesma cara em todos os tempos e todos os lugares. Considerar os não judeus impuros é racismo. 

Acreditar que casamentos mistos são ameaça à sociedade israelense é racismo. 

Afirmar que é dever do Estado judeu proibir os casamentos entre judeus e goym é racismo.  

Garantir o direito de os racistas exercerem seu racismo impunemente é política estatal pró-racismo.

Qual seria a resposta dos judeus brasileiros ou dos brasileiros de fé judaica, se uma organização, um grupo ou mesmo um indivíduo declarar que eles são impuros? Qual a resposta dos judeus brasileiros se alguém gritar, em qualquer lugar do Brasil, “morte aos judeus”?

A conduta exigida no Brasil deve ser a mesma exigida em qualquer lugar do mundo, inclusive em Israel.

Defender um Estado que tem políticas racistas e ao mesmo tempo falar em valores universais como liberdade, igualdade, indica esquizofrenia, hipocrisia e mau caráter.

A “Justiça” de Israel

Na noite de 17/8/2014, o exército de Israel demoliu as casas daqueles que ele alega serem suspeitos do sequestro dos três colonos na Cisjordânia.

O porta-voz do exército, Peter Lerner, afirmou que Israel está determinado a levar os assassinos dos três judeus a Justiça. Disse que “a demolição das casas dos terroristas permite transmitir uma mensagem a eles e seus cúmplices: paga-se um preço pessoal quando alguém traça ataque contra Israel”.

As declarações do porta-voz demonstram com clareza o tipo de “Justiça” de Israel. Ele próprio afirma que são suspeitos e que ainda não foram levados a julgamento. Mesmo assim, suas casas foram liminarmente demolidas.

O porta-voz declara que a ação de Israel é mensagem aos cúmplices. Nos complexos residenciais demolidos, moravam mais de dez famílias, com muitas crianças.  Será que o porta-voz judeu considera as crianças cúmplices?

O caso do seqüestro e assassinato dos colonos não foi esclarecido. Vários observadores internacionais e israelenses questionam a estória oficial do governo. Há vozes que falam das mortes em acidente de trânsito e uso dos corpos para a farsa de seqüestro/assassinato.

Um documentário da televisão estatal alemã coloca sob suspeita toda a narrativa oficial israelense.

A prática israelense de demolir casas dos ativistas palestinos é considerada ato de vingança, sem fundamento legal e ao arrepio do Direito Penal Internacional, já que é punição que ultrapassa os limites da pessoa.

Na época em que Israel noticiou o seqüestro dos colonos judeus, um adolescente palestino foi seqüestrado, torturado e queimado vivo por colonos judeus. Os judeus assassinos foram vistos empurrando o menino para dentro do carro e as câmeras de vigilância filmaram o ocorrido, possibilitando a identificação dos assassinos judeus.

A polícia israelense prendeu os assassinos judeus, que confessaram  seus crimes.

Em Israel, há milhares de casos de judeus acusados de matar árabes.

Quando são presos, sempre cumprem penas muito breves e NUNCA, NUNCA, Israel demoliu ou atacou a casa de nenhum terrorista judeu, ainda que confesso.

Em Israel, o sangue goy não tem valor. Só é protegido o sangue judeu.

Os virtuosos entre as nações

Henk Zanoli, 91 anos, advogado holandês aposentado, em 2011, recebeu, com sua mãe, a medalha de “Virtuoso entre as nações”, por salvar a vida de uma criança judia durante a II Guerra Mundial.

O pai de Henk morreu no campo de Dachau.

A sobrinha-neta de Henk é casada com o economista palestino Ismail Ziadah, nascido no campo de refugiados de Al Burej, na faixa de Gaza.  

O casal se conheceu na Universidade de Bir Zeit e atualmente refugiam-se no Golfo.

Durante a mais recente ofensiva de Israel contra Gaza, uma bomba foi lançada contra a residência da família de Ziadah, destruindo totalmente seu apartamento.  Entre os mortos, estavam a mãe, três irmãs, uma cunhada e um primo.

Henk devolveu a medalha para a embaixada israelense, juntamente com uma carta na qual dizia: “Durante os ataques israelenses contra Gaza, em 20/7/2014, uma bomba destruiu um prédio de quatro andares no campo de refugiados Al Burej, morreram todos os que ali se encontravam. Entre as vítimas, contavam-se seis parentes da minha sobrinha-neta. É uma tragédia, um grande choque para nossa família, que após quatro gerações, perde novamente parentes em guerra, dessa vez em Gaza, assassinados por Israel. Manter a medalha concedida a mim pelo Estado judeu seria um insulto à memória da minha família e da minha corajosa mãe. O que Israel faz em Gaza resultou em graves acusações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Como advogado, posso afirmar que se for julgado por um Tribunal justo, Israel será condenado” terminou o holandês.

No website Yad Vashem, que concede a medalha, lê-se que “em mundo em total colapso moral, uma pequena minoria demonstrou uma coragem extraordinária defendendo os valores humanos. Foram os virtuosos entre as nações: lutaram contra a maioria indiferente ou hostil e trataram os judeus como irmãos na humanidade, com laços universais”.

Pergunta-se: quantos judeus podem ser virtuosos em relação aos palestinos, quando 97% da população israelense defende o genocídio em Gaza, quando a sociedade israelense se cala diante dos milhares de gritos de judeus comemorando que “amanhã, as crianças de Gaza não irão à escola, porque não apenas destruímos as escolas, como assassinamos as crianças?”

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