A capa e a espada*

Ter, 21/03/2006 - 00:00
Ibn-Hazm, parcimonioso da história, e Ibn-Abd-Rabbihi, da oratória, ambos trataram o amor com zelos de fêmea caprichosa. Um o revestiu de colar precioso, o outro lhe apôs da pomba furtivo o colar gracioso. Pobre rima a minha; a deles, rica nos torneios. De colar a outro, a de Alandalus furtou-se à do Leste poesia recamando-a em honrarias: plurimultifacetados ambos, costuraram túnica barroca em alinhavados brocados de ouro. Outros ibns de outros itens lustrariam salões híbridos de abrasado refinamento, como o tal Ibn-Quzmân de quem se sabe de romãs vivia: dizendo que o feitor lhas trazia à mesa posta. Vizir vivendo à custa de migalhas trocadas por honrarias suadas em zejéis enviesados de gazéis panegirizados. Que outra amostra de reféns pôde a história prover por melindres tão tortuosos? Ibn-Ammar perdeu os miolos por aliciar, sedicioso, de Almutamid o imberbe ibn. governador antes, a cara ornada, reconduzido em burro de carga foi o amado recalcitrante. Restou-lhe a espada que o rei deitou-lhe sob a cara limada, antes, no colar caro que a poesia enfeitara em horas de entretenimento: caprichos de Alandalus em cenas de capa e espada. *(poema do livro inédito Niúla, publicado originalmente no dia 28 de outubro de 2005, na edição nº22 da newsletter do Icarabe)