Gaza: Mais um capítulo no holocausto palestino
Tudo é calculado. Tudo é estrategicamente planejado. Tudo é eficientemente articulado, para que, hoje, possamos assistir a mais um massacre do povo palestino. Agora é na Faixa de Gaza. Quando Theodor Herzl, o pai intelectual do sionismo, publicou o seu famoso livro “O estado judeu”, em 1896, que levou à formação da OSM (Organização Sionista Mundial), criada no Primeiro Congresso Sionista, realizado em 1897, todo o plano começou a ser criado. Nesse congresso decidiu-se pela criação de um estado judeu na Palestina no prazo de 50 anos. Que precisão! Mas que precisão? A Resolução 181 da ONU, do dia 29/11/1947, concedeu 53% da Palestina à comunidade judaica para a criação do Estado de Israel, enquanto o restante (47%) seria suficiente para os palestinos. Embora todos os países árabes, incluindo o estado palestino, estivessem ocupados militarmente pela Inglaterra, França, Espanha e Itália, foram contra a resolução da ONU.
Para saber o que de fato aconteceu naquele período de 50 anos, que terminou com a criação do Estado de Israel, algumas datas nunca devem ser esquecidas. Os massacres que o povo palestino sofreu dos grupos armados da comunidade judaica na Palestina nos anos 30 e 40. Os grupos armados “Irgun” e “Stern Gangs”, tanto quanto a AJI (Agência Judaica por Israel), foram considerados pelo governo britânico, no dia 24 de julho de 1946, como organizações terroristas devido aos massacres e à expulsão de palestinos de seus lares, cidades e lavouras.
Outra data é 1917, na qual o Ministro do Exterior da Inglaterra, Artur Balfour, conseguiu aprovar no Congresso britânico a sua proposta de apoiar o projeto sionista de criação de um estado judeu na Palestina. A manifestação ganhou, desde então, o rótulo de “Declaração Balfour”. Uma outra data é 1922, na qual a Liga das Nações aprovou o “mandato britânico na Palestina”, nome pomposo e um eufemismo para uma ocupação militar daquele país. E os britânicos anunciaram que sairiam da Palestina no prazo de duas décadas; até lá os palestinos estariam em boas condições para, autonomamente, governar o seu país. Os britânicos anunciaram, no dia 13 de maio de 1948, a sua retirada da Palestina. No dia seguinte, 14 de maio, foi proclamado o estado de Israel pelos líderes da comunidade judaica na Palestina. E, começou a novela dos massacres, desde então, realizados pelo exército israelense.
É um fantástico plano de expansão territorial, que dá de dez a zero no plano norte-americano de expansão territorial nas direções Oeste e Sul, no início e meados do século XIX, que aniquilou os povos indígenas e os mexicanos.
Desde 1967 até hoje, a área sobre a qual o estado israelense está instalado equivale a 78% da original Palestina. E, ainda, desde a mesma data, o restante (22%), onde, hoje, vivem os palestinos é ocupado militarmente pelo exército israelense, e os massacres nunca pararam. Esses territórios palestinos são chamados pela ONU de “territórios palestinos ocupados”. O pior é que essa porcentagem de 22%, onde os palestinos “vivem”, é dividida em duas áreas totalmente isoladas uma da outra sem nenhum contato. O palestino não tem o direito de se deslocar de uma área para outra, para visitar os seus familiares. Ainda mais: cada uma dessas duas áreas recebeu dezenas de assentamentos e colônias, que pela “lei” israelense se tornam territórios israelenses, com estradas que se interligam e que são, também, considerados territórios israelenses, onde o palestino não pode pisar e muito menos atravessar. Resultado: o povo palestino está totalmente fragmentado, sem infra-estrutura mínima, sem exército e sem autonomia; enfim, uma nação em que a vida de seus habitantes não vale mais nada. Mas, como a dignidade ainda não foi atingida, essa vida, que não vale mais nada, começa a ser usada nos momentos de desespero até mesmo como veículo explosivo contra alvos israelenses.
Ao longo das décadas, a tática é a mesma: efetuar, periodicamente, uma grande ofensiva; o mundo se assusta, mas esquece de discutir o conflito desde o seu início e tenta resolver apenas essa nova situação. Israel abre mão de uma parte do território conquistado na ofensiva e, injustamente, conquista outro. O mais interessante refere-se aos acordos bilaterais firmados entre Israel e governantes árabes, alguns dos quais corruptos. A cláusula principal determina o não envolvimento destes em qualquer conflito entre Israel e qualquer outro país árabe, principalmente o conflito com os palestinos. É isso que deixa o Egito, além de vários outros países, com as mãos amarradas, sem poder fazer absolutamente nada diante de cada operação de massacre que os palestinos sofram.
Com a esperada posse de Barack Obama, marcada para o dia 20 de janeiro de 2009, e com a aproximação da data das eleições para o Legislativo israelense, marcada para o dia 10 de fevereiro, é fundamental aproveitar as duas oportunidades para a consolidação de conquistas e assegurar uma governabilidade mais segura dentro de Israel. É uma tática a mais, presente no massacre de Gaza.
As eleições em Israel, que seriam realizadas em 2010, foram antecipadas, devido ao fracasso da líder do partido governista, o Kadima, Tzipi Livni, em formar uma coalizão de governo. 'É importante que novas eleições sejam realizadas o mais rapidamente possível para reduzir incertezas, devido aos sérios desafios políticos, econômicos e de segurança que Israel tem', disse o porta-voz do Kadima, Smulik Dahan. De um lado, Obama chegando ao poder com Gaza invadida, daria a ele a condição de convencer Israel a sair, mediante condições muito mais desfavoráveis contra os palestinos. A saída, após Gaza arrasada e massacrada, favoreceria a formação de uma coalizão de governo israelense mais viável para os próximos anos.
Assim é que foi planejada a atual “operação massacre” de Gaza. O comando israelense resolveu dar início ao seu projeto de limpeza étnica nesse território palestino, no qual, através do terror, mata uma boa parte dos palestinos em poucas semanas e expulsa o restante para o Egito. Em todos os dias do massacre, de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, milhares de panfletos foram jogados por helicópteros israelenses nas diferentes cidades da Faixa de Gaza pedindo a saída da população e a evacuação de todo o território palestino. É mais um crime de guerra que o estado sionista vem cometendo para manchar, cada vez mais, a sua história e levar qualquer cidadão comum a perguntar: é possível que um povo que sofreu com o Holocausto nazista da Alemanha permita que os seus governantes cometam crimes semelhantes contra crianças e civis indefesos de um outro povo?
Após 13 dias de massacre, 763 palestinos já morreram e mais de 3.200 foram severamente feridos. Um terço das vítimas são crianças abaixo de 12 anos. O lado israelense, no mesmo período, perdeu dez vidas, oito das quais são soldados. Estamos falando de dois povos, um invadido e ocupado militarmente pelo outro. Um tem o quarto exército mais forte e mais equipado do planeta. O outro nem exército tem. Um tem armas nucleares, aviões F-16 tanques e helicópteros militares de última geração. O outro sequer granada manual pode ter. Os grupos populares palestinos de resistência à ocupação estão sendo chamados pelo governo sionista, lamentavelmente, de terroristas. Parece-me que o estado israelense quer convencer o mundo de que os palestinos não podem ter o direito de se defender da violência e da barbárie, e sim a obrigação de morrer em silêncio. Aliás, sob o som dos bombardeios e dos mísseis israelenses, porém, sem reclamar.
Mais uma página da história da humanidade está sendo escrita, hoje com o sangue palestino. Certamente chegará o dia em que futuras gerações judias sentirão vergonha de ter tido em seu estado judaico governantes que não respeitaram um dos mais importantes mandamentos que Moisés trouxe para a humanidade: não matarás.