Ataque a Gaza não se justifica

Qua, 21/01/2009 - 22:00

Israel é uma potência militar que há quatro décadas mantém a ocupação ilegal da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, contra todas as determinações da ONU. É um Estado neocolonialista. O povo palestino, incluindo o Hamas, tem o pleno direito de reagir às humilhações, às agressões, à segregação cultural, étnica e religiosa impostas pelo estado sionista. Alguém poderá dizer que o quadro descrito acima é exagerado. Muito bem. Vamos aos fatos. “Em Gaza, os colonizadores judeus eram apenas 8 mil em 2005 comparados com 1,4 milhão de residentes. Ainda assim os colonizadores controlavam 25% do território, 40% da terra arável e a fatia do leão dos recursos escassos de água. Colada com esses intrusos estrangeiros, a maioria da população local vivia em pobreza abjeta e miséria inimaginável. Oitenta por cento deles ainda subsiste com menos de 2 dólares por dia.” Os dados são fornecidos pelo judeu israelense Avi Shlaim, “alguém que serviu lealmente o exército de Israel na metade dos anos 60 e que nunca questionou a legitimidade do Estado de Israel dentro das fronteiras pré-1967”. Apóio-me, portanto, nas afirmações de alguém que jamais poderá ser acusado de “antissemita” ou qualquer estupidez semelhante (estupidez sempre muito conveniente, aliás). “Quatro décadas de controle israelense causaram danos incalculáveis à economia da faixa de Gaza”, continua Shlaim. “Gaza, no entanto, não é apenas um caso de subdesenvolvimento, mas um caso unicamente cruel de des-desenvolvimento deliberado. Para usar uma frase bíblica, Israel transformou o povo de Gaza em hewers of wood and drawers of water, em fonte de trabalho barato e um mercado cativo para os bens de Israel. O desenvolvimento da indústria local foi ativamente impedido para tornar impossível aos palestinos acabar com sua subordinação a Israel e estabelecer as bases essenciais para uma independência política real. Gaza é um caso clássico de exploração colonial na era pós-colonial.” Em agosto de 2005, o então primeiro-ministro Ariel Sharon retirou 8 mil colonos de Gaza, mas ao mesmo tempo promoveu o assentamento de 12 mil novos colonos na Cisjordânia. Cercada pelo terceiro ou quarto exército mais poderoso do mundo (às custas do contribuinte estadunidense), Gaza tornou-se uma imensa prisão a céu aberto. A retirada dos colonos não correspondeu a um movimento pela paz, mas sim a uma tentativa de desenhar as fronteiras do Estado israelense, à revelia dos palestinos. Não é possível ao povo palestino constituir um Estado viável tendo como base a Faixa de Gaza e os retalhos de uma Cisjordânia entrecortada pelo ilegal Muro da Vergonha. Resta o argumento de que os foguetes do Hamas atingem israelenses inocentes e de que os terroristas do Hamas usam civis como escudos. Sim, é verdade. Mas as torcidas do Corinthians e do Flamengo sabem que Israel estimulou o surgimento do Hamas (para fazer oposição a Iasser Arafat); e se tem alguém que chantageia, oprime, assassina, ataca, humilha e esmaga a população civil palestina é o Estado sionista. A invasão de Gaza só agrava o quadro. O caminho para a paz não passa pela invasão de Gaza, mas pela retirada de Israel de todos os territórios ocupados. Israel deve abandonar sua condição de Estado pirata. *artigo publicado no site OperaMundi.net, na seção debate