Uma celebração ao legado de Aziz Ab’Saber em simpósio no Sesc 24 de Maio
Centenário do geógrafo e ambientalista que marcou a ciência brasileira foi comemorado em simpósio promovido pelo Sesc São Paulo, em parceria com a Cátedra Edward Saïd (Universidade Federal de São Paulo - Unifesp) e o Instituto da Cultura Árabe (ICArabe).
O auditório do Sesc 24 de Maio foi palco, nesta terça-feira, 26 de novembro, para a celebração da trajetória e do legado de Aziz Ab´Saber, um dos maiores intelectuais brasileiros, com a realização do Simpósio “Expedição Aziz Ab’Saber 100 anos”, organizado pelo Sesc, em parceria com a Cátedra Edward Said - Unifesp e o Instituto da Cultura Árabe (ICArabe). O evento teve transmissão pelo canal do ICArabe no YouTube (clique aqui para assistir)
Composto por três mesas de discussão, o encontro abordou carreira de Aziz Ab’Saber, que recebeu distinções científicas nas áreas de geografia, arqueologia, geologia e ecologia, consolidando-se como referência em estudos ambientais e impactos das atividades humanas. Entre suas contribuições, destacam-se pesquisas sobre a Bacia Potiguar – Rio Grande do Norte e Ceará –, que ajudaram na descoberta de petróleo na região, e a coordenação dos projetos de preservação das serras do Mar e do Japi, em São Paulo.
A abertura foi realizada por Natalia Calfat, secretária geral do ICArabe e presidente eleita para o biênio 2024-2026 (confira o discurso aqui). Antes da última mesa, os filhos de Aziz, Tales e Janaína Ab´Saber, receberam uma placa de homenagem ao pai, das mãos do Professor Dr. Francisco Miraglia, um dos fundadores do ICArabe e vice-presidente eleito para o biênio 2024-2026. “Queridos, é com enorme prazer que o Instituto da Cultura Árabe oferece esta placa de homenagem ao nosso Presidente de Honra, Aziz Ab´Saber, nosso querido de coração, que gostaríamos de dividir com vocês”, disse o Prof. Miraglia.
Legado reconhecido
Tales Ab'Saber, que integrou a última mesa do simpósio ao lado de Soraya Smaili, uma das fundadoras do ICArabe, e de Olgária Mattos, da Cátedra Edward Said – Unifesp, frisa que seu pai antecipou a percepção de que cada geração é responsável pelo futuro. “E, também, sendo um homem que estava comprometido com o progresso, com a modernização do país, com a justiça social, com um país que estava em construção, ultrapassou essa lógica introduzindo na ideia de modernidade, a ideia de que há algo fundamental a ser preservado, de que a construção de um mundo decente é também um mundo que se preserva. Não é só um mundo futuro, por vir, infinito e eterno que está sempre se renovando. Então tem um paradoxo nesse cientista nacional, social, que ao mesmo tempo é um conservador de algo vital”.
Natalia Calfat ressalta o orgulho em celebrar o centenário do Prof. Ab´Saber. “O espírito humanista do professor Aziz e o espírito de promoção da ciência é o espírito que norteia a própria atividade do ICArabe. Não só de celebração das suas origens, mas de promoção da ciência, de promoção do desenvolvimento sustentável e de um olhar para o outro. Um olhar aberto, gentil e humano. Hoje, quando a gente tem a felicidade de poder honrar o centenário do professor Aziz ao lado, claro, do Sesc, e ao lado da Cátedra Edward Said de Estudos da Contemporaneidade da Unifesp, é uma forma da gente celebrar o professor Aziz, que era um dos grandes, e que foi, talvez, o maior geógrafo que nós tivemos, na medida que ele se debruçou por temáticas do meio ambiente, impactos ambientais e todas as formas de interferência que são decorrentes da atividade humana”, pontuou.
As mesas do simpósio, como complementa Natalia, celebraram este legado em vários campos de pesquisa e vários campos de atuação, tendo ele contribuído de forma técnica para a própria área de pesquisa específica dele, mas também para várias instituições do pensamento brasileiro e também em relação com a comunidade árabe no Brasil. “O professor Aziz foi basicamente pioneiro em geografia física, mas ele se debruçou sobre temáticas de ecologia, de meio ambiente, de cidadania. E ele foi o que se chama de um geógrafo completo porque ele se debruçou sobre questões socioambientais, de agroecologia e de variações climáticas. Ele foi um defensor do direito da natureza, do direito humano à água, e celebrou o conhecimento das comunidades nativas. Então, na medida que o professor Aziz tem uma visão não só física, mas humana e humanística da geografia, ele incorpora todos os elementos sociais, espaciais, socioeconômicos e humanos da geografia e da física. É nesse sentido que ele é chamado de um geógrafo completo, porque ele tem essa visão holística da geografia e da inserção do homem no meio”.
Olgária Mattos também destacou que Aziz era um grande conhecedor, não só da geografia brasileira, como também de toda a questão do solo, dos ventos, da preservação da paisagem, da floresta e das condições naturais em mudança. “Ele sempre teve projetos, que não chegaram, acho, a ser efetivados no primeiro governo Lula, em que ele fazia um levantamento a fundo de todas as áreas de preservação, não só da Amazônia, Mata Atlântica, da Mantiqueira, várias regiões também que pudessem ser reflorestadas com a mata originária. Então, a maior importância é porque ele tem esse conhecimento profundo da geografia humana também. Isso que é muito importante do trabalho dele, por isso ele está sempre presente entre nós”.
“O Aziz tem uma importância enorme para a fundação do Instituto da Cultura Árabe porque ele fez parte dos primeiros momentos do Instituto antes mesmo de ser um Instituto, dos primeiros momentos que nós congregamos intelectuais de diversas universidades. Ele logo fez parte das homenagens que nós fizemos para o Edward Said, que foi em 2003, e depois ele participou de todos os momentos da discussão que levou à criação do Instituto no ano seguinte, em 2004”, lembra Soraya Smaili. “Então, durante um ano, várias pessoas se reuniam principalmente na USP e muitas vezes essas reuniões aconteciam no Instituto de Estudos Avançados, onde o Aziz tinha uma sala. Nós nos reuníamos na sala dele e fomos congregando pessoas até a criança do Instituto. Naquele momento, nós, reunidos, decidimos que ele deveria ser o presidente de honra pela história dele, pela trajetória, pela dedicação, pela grandiosidade do nome dele, respeitadíssimo como cientista e intelectual. Ele não queria aceitar porque ele era uma pessoa muito simples, que não queria cargos, nunca quis honrarias. Ficava sempre muito reservado quando tinha alguma coisa de honraria ou elogios. Depois de muitas vezes conversando, presenciando tudo o que o Instituto estava fazendo, ele aceitou ser o presidente de honra e é até hoje em memória”, contou Soraya.
“Temos muito orgulho disso, é uma história maravilhosa como geógrafo, como cientista, como professor, divulgador da ciência, que ele fala com os jovens em uma linguagem muito simples, muito acessível e todos sempre queriam estar próximos dele. Realmente uma pessoa que é o que foi falado aqui hoje: uma pessoa farol, que iluminou muitas vidas e iluminou muitos sentidos de diversas áreas e caminhos diferentes”.
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